<blockquote> <h1 dir="ltr" id="heading1">Introdu&ccedil;&atilde;o</h1> <p class="citation" dir="ltr"><em>Sexualidade: tema que poderia parecer uma irrelev&acirc;ncia p&uacute;blica &ndash; quest&atilde;o absorvente, mas essencialmente privada. Poderia ser tamb&eacute;m considerada um fator permanente, pois se trata de um componente biol&oacute;gico e como tal necess&aacute;ria &agrave; continuidade das esp&eacute;cies. Mas, na verdade, o sexo hoje em dia aparece continuamente no dom&iacute;nio p&uacute;blico e, al&eacute;m disso, fala a linguagem da revolu&ccedil;&atilde;o. (GIDDENS, 1992)</em></p> </blockquote> <p class="texte" dir="ltr">A partir de meados da d&eacute;cada de noventa tem havido no Brasil uma multiplica&ccedil;&atilde;o de eventos conhecidos como Paradas GLBT (Gays, L&eacute;sbicas, Bissexuais, Travestis e Transg&ecirc;neros). Estes eventos, realizados a partir da mobiliza&ccedil;&atilde;o do que se convencionou chamar de Movimento GLBT, Movimento GLBTT<a class="footnotecall" href="#ftn1" id="bodyftn1">1</a>, ou Movimentos Homossexuais (MACHADO &amp; PRADO, 2005), t&ecirc;m capturado a aten&ccedil;&atilde;o da sociedade brasileira tanto pelo crescente n&uacute;mero de participantes quanto por reivindica&ccedil;&otilde;es que nos obrigam repensar o campo pol&iacute;tico e a amplia&ccedil;&atilde;o dos direitos sociais.</p> <p class="texte" dir="ltr">As Paradas tem suas origens nas marchas pol&iacute;ticas que come&ccedil;aram a se organizar nos EUA em comemora&ccedil;&atilde;o &agrave;s Stonewall Riots que aconteceram dia 28 de junho de 1969. As Paradas s&atilde;o a express&atilde;o m&aacute;xima dos movimentos sociais que fizeram uma revolu&ccedil;&atilde;o na hist&oacute;ria da homossexualidade no ocidente e que devido &agrave;s conseq&uuml;&ecirc;ncias sociais e pol&iacute;ticas de suas a&ccedil;&otilde;es transformaram a hist&oacute;ria do mundo moderno como um todo, pois fizeram com que a sociedade cedesse espa&ccedil;o para uma minoria que exerce cada vez mais influ&ecirc;ncia sobre as institui&ccedil;&otilde;es e a cultura (SILVA, 2004).</p> <p class="texte" dir="ltr">As Paradas, como evento estrat&eacute;gico da visibilidade homossexual, interpelam os mecanismos sociais e institucionais de inferioriza&ccedil;&atilde;o social e discrimina&ccedil;&atilde;o sofrida pela popula&ccedil;&atilde;o homossexual na sociedade brasileira, transformando a condi&ccedil;&atilde;o de vida desta popula&ccedil;&atilde;o em tema p&uacute;blico de discuss&atilde;o, debate e reflex&atilde;o para o Estado e para a Sociedade Civil. Nesse sentido, a &ldquo;Parada GLBT&rdquo; tem se revelado uma importante a&ccedil;&atilde;o coletiva de cunho pol&iacute;tico, enquanto instrumento de participa&ccedil;&atilde;o social e pol&iacute;tica de Gays, L&eacute;sbicas, Bissexuais, Travestis e Transg&ecirc;neros na sociedade contempor&acirc;nea, atrav&eacute;s da visibilidade que conquistou no espa&ccedil;o p&uacute;blico e das quest&otilde;es que atrav&eacute;s dela emergem como tematiza&ccedil;&otilde;es da pr&oacute;pria sociedade brasileira.</p> <h1 dir="ltr" id="heading2">Objetivos</h1> <p class="texte" dir="ltr">De um modo geral, a democratiza&ccedil;&atilde;o dos lugares sociais relacionados &agrave;s identidades sexuadas, ou identidades de g&ecirc;nero, tem se acentuado nas &uacute;ltimas d&eacute;cadas. Temos visto uma transforma&ccedil;&atilde;o dos discursos cient&iacute;ficos, das legisla&ccedil;&otilde;es nacionais e das pr&aacute;ticas sociais que definem a identidade social e a cidadania dos homossexuais e de outros grupos oprimidos. Esses novos espa&ccedil;os conquistados s&oacute; foram poss&iacute;veis atrav&eacute;s da milit&acirc;ncia que se organizou em torno das demandas deste segmento e que aos poucos foi politizando novas quest&otilde;es e produzindo antagonismos sociais anteriormente impens&aacute;veis.</p> <p class="texte" dir="ltr">Pensando que ainda h&aacute; muito que conquistar, consideramos extremamente importante ampliarmos nossos conhecimentos sobre a hist&oacute;ria do movimento homossexual e sobre suas din&acirc;micas s&oacute;cio-pol&iacute;ticas, para que possamos ter uma perspectiva mais completa sobre o que significa a luta por direitos sexuais, e uma compreens&atilde;o da homossexualidade interpelada no &acirc;mbito p&uacute;blico.</p> <p class="texte" dir="ltr">A partir de pesquisas junto aos representantes desse movimento em Belo Horizonte, pretende-se discutir as implica&ccedil;&otilde;es positivas e negativas da visibilidade proporcionada pelas Paradas na consolida&ccedil;&atilde;o e constru&ccedil;&atilde;o de novos direitos sociais para o seguimento GLBT. Sendo assim, apontaremos para a import&acirc;ncia da implementa&ccedil;&atilde;o de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas espec&iacute;ficas, o comprometimento do estado e a autonomia dos movimentos que emergem da sociedade civil organizada, na reconfigura&ccedil;&atilde;o de uma cidadania GLBT mais plena.</p> <p class="texte" dir="ltr">Embora este texto enfatize os resultados de minha pesquisa de mestrado, estas reflex&otilde;es s&atilde;o fruto de um percurso mais amplo. Nos &uacute;ltimos tr&ecirc;s anos participei de cinco pesquisas que tomam a homossexualidade como tema central de reflex&atilde;o: um estudo comparativo de dois grupos militantes<a class="footnotecall" href="#ftn2" id="bodyftn2">2</a>; um estudo sobre a participa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica de militantes no movimento GLBT<a class="footnotecall" href="#ftn3" id="bodyftn3">3</a>; duas pesquisas quantitativas durante as Paradas de 2005 e 2006<a class="footnotecall" href="#ftn4" id="bodyftn4">4</a>; e finalmente, um estudo sobre a constitui&ccedil;&atilde;o da identidade coletiva da Parada GLBT de Belo Horizonte<a class="footnotecall" href="#ftn5" id="bodyftn5">5</a>;</p> <h1 dir="ltr" id="heading3">Metodologia e fundamenta&ccedil;&atilde;o te&oacute;rica</h1> <p class="texte" dir="ltr">&Eacute; importante ressaltarmos que as pesquisas que embasam este texto foram desenvolvidas a partir de referenciais te&oacute;ricos da Psicologia Social, e compreendemos que se justificam n&atilde;o s&oacute; por suas contribui&ccedil;&otilde;es epistemol&oacute;gicas, mas tamb&eacute;m pelas contribui&ccedil;&otilde;es sociais do trabalho de pesquisa, at&eacute; mesmo porque essas duas dimens&otilde;es s&atilde;o insepar&aacute;veis. Diversos autores (LANE, 2000; SANDOVAL, 2000) argumentam sobre a import&acirc;ncia de a ci&ecirc;ncia assumir seu papel pol&iacute;tico, facilitando a transforma&ccedil;&atilde;o social atrav&eacute;s de uma leitura hist&oacute;rica dos fen&ocirc;menos humanos. Nessa perspectiva, a ci&ecirc;ncia &eacute; um construto s&oacute;cio hist&oacute;rico, longe da neutralidade e que responde a press&otilde;es pol&iacute;ticas e necessidades percebidas pela sociedade.</p> <p class="texte" dir="ltr">A import&acirc;ncia de se declarar os destinat&aacute;rios das pesquisas se torna mais s&eacute;ria em um pa&iacute;s onde as condi&ccedil;&otilde;es de opress&atilde;o figuram entre as mais acentuadas do mundo<a class="footnotecall" href="#ftn6" id="bodyftn6">6</a>. Deve-se levar em conta que o desenvolvimento da psicologia social latino-americana se deu principalmente a partir das reflex&otilde;es cr&iacute;ticas proporcionadas pela aplica&ccedil;&atilde;o pr&aacute;tica da psicologia social americana no contexto brasileiro.</p> <p class="texte" dir="ltr">Ap&oacute;s compreender que o terreno natural de investiga&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica e de aplica&ccedil;&atilde;o era o mundo do subdesenvolvimento, logo percebemos que mudan&ccedil;a (individual ou coletiva, entendida como conscientiza&ccedil;&atilde;o, mobiliza&ccedil;&atilde;o e empoderamento) deveria ser um componente central de nossa abordagem, a qual nesse contexto, requeria compreens&atilde;o sociopsicol&oacute;gica/psicossociol&oacute;gica integrada para adequadamente lidar com a pobreza (entendida como exclus&atilde;o, opress&atilde;o e impot&ecirc;ncia) (SANDOVAL, 2000, p. 105-106).</p> <p class="texte" dir="ltr">Sendo assim, o contexto de subdesenvolvimento, entendido dentro de um processo de globaliza&ccedil;&atilde;o hegem&ocirc;nico que mant&eacute;m os pa&iacute;ses perif&eacute;ricos e semi-perif&eacute;ricos em condi&ccedil;&otilde;es econ&ocirc;micas desfavor&aacute;veis e em processos de coloniza&ccedil;&atilde;o cultural, n&atilde;o pode de modo algum ser ignorado neste trabalho. Pensar as rela&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas fora de uma concep&ccedil;&atilde;o de mundo que considere as quest&otilde;es postas pela globaliza&ccedil;&atilde;o &eacute; insuficiente. Vivemos um cen&aacute;rio pol&iacute;tico mundializado, onde o Estado &eacute; pequeno demais para tratar das quest&otilde;es macro-estruturais estando dependente dos jogos internacionais, e ao mesmo tempo, grande demais para tratar das quest&otilde;es micro estruturais que se dinamizam vertiginosamente na crescente complexidade social dos dias de hoje (TEJERINA, 2005).</p> <p class="texte" dir="ltr">Fen&ocirc;menos sociais s&atilde;o de natureza complexa e trazem n&iacute;veis de complexidade que nos exigem cada vez mais aten&ccedil;&atilde;o, esfor&ccedil;os, rigor e criatividade n&atilde;o apenas na elabora&ccedil;&atilde;o e delineamento dos procedimentos metodol&oacute;gicos, mas tamb&eacute;m no tratamento que daremos &agrave; informa&ccedil;&atilde;o produzida por eles.</p> <p class="texte" dir="ltr">Sandoval (1997) argumenta que o estudo do comportamento pol&iacute;tico &eacute; por natureza transdisciplinar e que para melhor compreend&ecirc;-lo devemos lan&ccedil;ar m&atilde;o de abordagens construtivistas e interacionistas. Devemos pensar o comportamento pol&iacute;tico como um processo din&acirc;mico que se desenvolve dentro de cen&aacute;rios sociais e institucionais.</p> <p class="texte" dir="ltr">Os atores pol&iacute;ticos s&atilde;o construtivistas na medida em que eles conscientemente v&atilde;o se posicionando em arenas onde eles ir&atilde;o agir. J&aacute; que n&atilde;o h&aacute; teoria que explique a priori os determinantes de processos de comportamento pol&iacute;tico, teremos que assumir abordagens que privilegiam o inter-relacionamento das esferas de a&ccedil;&atilde;o e do voluntarismo dos atores. (SANDOVAL, 1997)</p> <p class="texte" dir="ltr">O desafio proposto &agrave;s teoriza&ccedil;&otilde;es que desafiam este campo est&aacute; relacionado a superar estes hiatos sem cair nos recorrentes reducionismos que tentam explicar a totalidade do comportamento pol&iacute;tico enfatizando sobremaneira apenas uma dimens&atilde;o. Nesse sentido, Sandoval (1997) argumenta que se por um lado a psicologia foi micro-c&oacute;smica demais para poder elaborar uma interpreta&ccedil;&atilde;o te&oacute;rica do comportamento pol&iacute;tico, a sociologia se mostrou ainda demasiadamente gen&eacute;rica para ser convincente em suas interpreta&ccedil;&otilde;es.</p> <p class="texte" dir="ltr">O erro que se comete aqui &eacute; perceber o indiv&iacute;duo como sujeito da estrutura, mais do que um agente dentro dela, como se quando entrasse no campo do coletivo ele perdesse sua racionalidade, ou percebe-los de forma simplista como atores &ldquo;Sociais&rdquo; ou &ldquo;Intencionais&rdquo;, onde o indiv&iacute;duo realizaria seus objetivos no espa&ccedil;o coletivo da sociedade de plena posse de uma racionalidade transparente.</p> <p class="texte" dir="ltr">Podemos perceber as dualidades iluministas separando de um lado um sujeito racional &nbsp;de um irracional. Essa separa&ccedil;&atilde;o se d&aacute; quando tomamos o indiv&iacute;duo como &ldquo;objeto da sociedade&rdquo; ou como um &ldquo;ator intencional&rdquo; (PRADO, 2000).</p> <p class="texte" dir="ltr">Essas dualidades se manifestam quando pensamos algumas teorias que nos informam sobre a constitui&ccedil;&atilde;o das identidades sexuadas, e que resvalam para um conservador &nbsp;&ldquo;binarismo&rdquo; presente nos estudos de g&ecirc;nero, o que impede a problematiza&ccedil;&atilde;o de alguns c&acirc;nones cient&iacute;ficos tradicionais e o pr&oacute;prio processo de constitui&ccedil;&atilde;o da cultura n&atilde;o incorporando em suas teoriza&ccedil;&otilde;es as dimens&otilde;es identit&aacute;rias da sexualidade, ra&ccedil;a, classe, religi&atilde;o etc. (G&Oacute;IS, 2003);</p> <p class="texte" dir="ltr">Em alguns estudos de g&ecirc;nero/feministas podemos encontrar uma diferencia&ccedil;&atilde;o entre os pap&eacute;is de g&ecirc;nero fundamentada em conceitua&ccedil;&otilde;es essencialistas sobre o que seria a feminilidade, na produ&ccedil;&atilde;o de uma identidade mais ou menos fixa com vistas a produzir um discurso contra-hegem&ocirc;nico emancipat&oacute;rio da mulher<a class="footnotecall" href="#ftn7" id="bodyftn7">7</a>. Dois problemas podem ser associados a essa tend&ecirc;ncia, o primeiro seria a incapacidade desse binarismo em apreender a diversidade dos pap&eacute;is, comportamentos e orienta&ccedil;&otilde;es sexuais existentes. O segundo, eminentemente pol&iacute;tico, seria a incapacidade dos discursos de inter-relacionarem as diferentes formas de opress&atilde;o e antagonismo em um novo discurso democr&aacute;tico, o que traria problemas sem&acirc;nticos e ideol&oacute;gicos para as redes de movimentos sociais organizados (MOUFFE, 1996).</p> <p class="texte" dir="ltr">Segundo Rohden (2003) para que possamos ter uma compreens&atilde;o mais abrangente da produ&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica sobre os modelos de g&ecirc;nero e sexo, &eacute; necess&aacute;ria uma postura cr&iacute;tica quanto as propriedades atribu&iacute;das ao mundo natural ou cultural, reconhecendo a variabilidade existente nessas atribui&ccedil;&otilde;es e sua intr&iacute;nseca rela&ccedil;&atilde;o com a cultura.</p> <p class="texte" dir="ltr">Smigay (2002) aponta algumas rela&ccedil;&otilde;es entre sexismo, homofobia e viol&ecirc;ncia de g&ecirc;nero, discutindo programas sociais e pol&iacute;ticas p&uacute;blicas governamentais a partir de uma an&aacute;lise das teoriza&ccedil;&otilde;es sobre rela&ccedil;&otilde;es de viol&ecirc;ncia. Essa autora atenta para a incapacidade das teorias atuais em operar e entender, o que denomina de uma gram&aacute;tica de g&ecirc;nero, de classe e de ra&ccedil;a/etnia, ou ainda, a considerar os fatores intervenientes que se cruzam ao problema psicossociol&oacute;gico.</p> <p class="texte" dir="ltr">Segundo G&oacute;is (2003), tanto os estudos feministas, quanto os gays e l&eacute;sbicos, est&atilde;o longe de cobrir a diversidade dos subgrupos que suas teorias abarcam. As feministas pesquisando mulheres brancas heterossexuais e os estudos gays e l&eacute;sbicos priorizando homossexuais masculinos sem cor, talvez por serem homens, e em sua maior parte brancos, os autores. Nessa perspectiva, aponta a Teoria Queer como sendo mais pr&oacute;xima ao campo dos estudos sobre orienta&ccedil;&atilde;o sexual, por se opor &agrave; tradicional distin&ccedil;&atilde;o feita pelo feminismo cl&aacute;ssico, questionando a diferencia&ccedil;&atilde;o entre sexo, g&ecirc;nero e orienta&ccedil;&atilde;o sexual, pois subentende uma naturaliza&ccedil;&atilde;o do sexo biol&oacute;gico. A cr&iacute;tica radical das teorias queers, interroga a distin&ccedil;&atilde;o cl&aacute;ssica entre sexo e g&ecirc;nero ao questionar a origem biol&oacute;gica da diferen&ccedil;a sexual, e ao ter em vista as demais formas de opress&atilde;o, tais como as de classe e ra&ccedil;a, prop&otilde;e uma apreens&atilde;o transversal das rela&ccedil;&otilde;es sociais de domina&ccedil;&atilde;o atrav&eacute;s de uma captura das identidades sexuadas pelo conceito de performatividade (PRECIADO, 2005). De um modo geral, as Teorias Queers, questionam a posi&ccedil;&atilde;o do sujeito moderno como um todo, buscando atrav&eacute;s da articula&ccedil;&atilde;o discursiva escapar o m&aacute;ximo poss&iacute;vel da reapropria&ccedil;&atilde;o de seu discurso pelo sistema capitalista de produ&ccedil;&atilde;o.</p> <p class="texte" dir="ltr">C&oacute;rdoba (2003) afirma que a Teoria Queer reativa e refor&ccedil;a o objetivo de transpor a sexualidade do campo do natural e dos campos de conhecimento que assim as definem, levando-as ao campo social, e como este est&aacute; atravessado pelo poder, ao campo pol&iacute;tico. Desnaturalizar a identidade sexual implica na ren&uacute;ncia de qualquer padr&atilde;o de normalidade, extrapolando os motivos epistemol&oacute;gicos, com vistas a criar conhecimentos que fa&ccedil;am parte de uma estrat&eacute;gia de tomada de poder, pois toda identidade &eacute; o efeito de um contexto hist&oacute;rico-social de rela&ccedil;&otilde;es de poder.</p> <p class="texte" dir="ltr">A Teoria Queer reconhece que todo discurso &eacute; contingente e posicionado, no qual a sexualidade &eacute; uma constru&ccedil;&atilde;o discursiva e, por essa raz&atilde;o, &eacute; reconhecida como enuncia&ccedil;&atilde;o <em>performativa</em>. Butler (1990) prop&otilde;e uma leitura do sexo como efeito do processo de naturaliza&ccedil;&atilde;o da estrutura social de g&ecirc;nero e da matriz heterossexual, na qual o sujeito n&atilde;o existe anteriormente &agrave; performatividade, mas se constitui no ato da interpela&ccedil;&atilde;o discursiva (C&oacute;rdoba, 2003).</p> <p class="texte" dir="ltr">Matos (2000) apresenta algumas cr&iacute;ticas &agrave;s id&eacute;ias de Butler. Defendendo a psican&aacute;lise freudiana do excessivo desprezo de Butler, Matos (2000) recha&ccedil;a a influ&ecirc;ncia de Lacan quando concebe a materialidade, e conseq&uuml;entemente os corpos, como &ldquo;mat&eacute;rias de significa&ccedil;&atilde;o&rdquo;, sendo ao mesmo tempo inacess&iacute;veis &agrave; linguagem e inexistentes antes dela. Matos (2000) prefere entender a materialidade dos corpos como &ldquo;energia&rdquo;, como &ldquo;carne&rdquo;, com alguma esp&eacute;cie de exist&ecirc;ncia m&iacute;nima n&atilde;o acess&iacute;vel ou mediatiz&aacute;vel pela linguagem.</p> <p class="texte" dir="ltr">Al&eacute;m disso, Matos (2000) tamb&eacute;m critica a no&ccedil;&atilde;o de cultura, decorrente das mesmas contradi&ccedil;&otilde;es do legado lacaniano. Ao privilegiar a cultura, Butler n&atilde;o consegue escapar das hierarquias identit&aacute;rias e binarias entre ideal/mat&eacute;ria, cultura/natureza, mente/corpo (MATOS, 2000:), enfatizando a primazia da dimens&atilde;o racionalista e produzindo o efeito de esvaziar de conte&uacute;dos a dimens&atilde;o material. Como conseq&uuml;&ecirc;ncia deste movimento, a autora reduz ambos &agrave; posi&ccedil;&atilde;o binarizante e hierarquizante da l&oacute;gica monista f&aacute;lica &ndash; presen&ccedil;a ou aus&ecirc;ncia (MATOS, 2000), ao inv&eacute;s de abrir para as diferentes e m&uacute;ltiplas representa&ccedil;&otilde;es poss&iacute;veis.</p> <p class="texte" dir="ltr">As cr&iacute;ticas de Matos (2000) talvez sinalizem para algum relativismo presente nas Teorias Queer e que para nossos fins deve ser superado. Ao ampliarem excessivamente a dimens&atilde;o pol&iacute;tica, e enfatizarem a dimens&atilde;o ling&uuml;&iacute;stica, &eacute; poss&iacute;vel que percamos de vista o espa&ccedil;o concreto de viv&ecirc;ncia cotidiana e o espa&ccedil;o p&uacute;blico como campo de excel&ecirc;ncia na produ&ccedil;&atilde;o de antagonismos pol&iacute;ticos. Esse relativismo ling&uuml;&iacute;stico talvez contribua para privilegiar os discursos, deixando o concreto em segundo plano, o que pode ser uma passagem para a produ&ccedil;&atilde;o de discursos ideologicamente hegem&ocirc;nicos, ou vazios de significado social, acarretando uma poss&iacute;vel vulgariza&ccedil;&atilde;o do pol&iacute;tico. Esse relativismo pode se revelar ainda mais problem&aacute;tico quando pensamos nas complexidades da realidade brasileira, o que aponta para a necessidade de termos cautela ao importarmos sem muita reflex&atilde;o os modelos Queer cada vez mais difundidos, e que s&atilde;o tipicamente americanos.</p> <p class="texte" dir="ltr">Exatamente por isso, buscamos ferramentas metodol&oacute;gicas quantitativas, tais como question&aacute;rios fechados, e qualitativas e interativas, tais como entrevistas, observa&ccedil;&atilde;o participante, pesquisa-a&ccedil;&atilde;o e an&aacute;lise documental (jornais, panfletos, s&iacute;tios virtuais, atas de reuni&otilde;es, estatutos internos, entre outros). Os dados produzidos podem nos aproximar mais efetivamente da realidade pesquisada atrav&eacute;s da triangula&ccedil;&atilde;o destes m&eacute;todos, o que possibilita a constru&ccedil;&atilde;o de informa&ccedil;&otilde;es mais consistentes.</p> <p class="texte" dir="ltr">T&atilde;o importante quando os m&eacute;todos que utilizamos &eacute; a import&acirc;ncia de uma rela&ccedil;&atilde;o positiva e de confian&ccedil;a entre os pesquisadores e o campo pesquisado, na figura dos grupos que militam em Belo Horizonte e das institui&ccedil;&otilde;es que de alguma forma se relacionam com estes atores.</p> <p class="texte" dir="ltr">Apenas depois de nossa inser&ccedil;&atilde;o em campo, e com a consolida&ccedil;&atilde;o gradativa de nossa participa&ccedil;&atilde;o no cotidiano dos grupos, atrav&eacute;s de reuni&otilde;es, convites para atividades acad&ecirc;micas, atua&ccedil;&atilde;o em atividades internas e externas que a rela&ccedil;&atilde;o entre a universidade e os atores pol&iacute;ticos foi ficando mais clara em suas simetrias e assimetrias (MACHADO &amp; PRADO, 2005). Deste modo, os grupos perceberam que o trabalho de pesquisa pode ter como objetivo facilitar o processo de constru&ccedil;&atilde;o do movimento. Em outras palavras, os militantes tomaram conhecimento que a comunidade acad&ecirc;mica de pesquisa que represent&aacute;vamos poderia ser apropriada como um aliado pol&iacute;tico<a class="footnotecall" href="#ftn8" id="bodyftn8">8</a> de forma reflexiva.</p> <h1 dir="ltr" id="heading4">Resultados pesquisa e discuss&atilde;o</h1> <p class="texte" dir="ltr" style="text-decoration:underline;">MOVIMENTOS GLBT&rsquo;S E IDENTIDADES COLETIVAS</p> <p class="texte" dir="ltr">Nossos estudos se ancoram em pressupostos te&oacute;ricos principalmente da Psicologia Social e apresentam proposi&ccedil;&otilde;es acerca da constitui&ccedil;&atilde;o da identidade coletiva e pol&iacute;tica, assim como formas de inser&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica empreendidas por movimentos sociais de GLBT&rsquo;s em Belo Horizonte. Neste sentido observamos pr&aacute;ticas pol&iacute;tico-sociais heterog&ecirc;neas entre as organiza&ccedil;&otilde;es estudadas, apontando que a constitui&ccedil;&atilde;o da identidade coletiva e a conseq&uuml;ente afirma&ccedil;&atilde;o de valores e reivindica&ccedil;&otilde;es nos grupos pesquisados, relacionam-se intrinsecamente &agrave;s posi&ccedil;&otilde;es de poder e alian&ccedil;as pol&iacute;ticas, bem como o contexto hist&oacute;rico engendrado em seu surgimento (MACHADO &amp; PRADO, 2005).</p> <p class="texte" dir="ltr">Tanto no estudo que empreendemos, quanto em bibliografias relativas ao Movimento GLBTT, encontramos que a extrema diversidade de pr&aacute;ticas e concep&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas nos levam a questionar a sua unidade, colocando em quest&atilde;o a possibilidade de falarmos em uma identidade coletiva. Exatamente por esse motivo preferimos falar em Movimentos Homossexuais, onde os diversos grupos, cada qual contribuindo com sua experi&ecirc;ncia pol&iacute;tica particular, revelam que o fazer pol&iacute;tico na contemporaneidade est&aacute; recheado de novas e velhas pr&aacute;ticas, n&atilde;o podendo ser reduzido a nenhum princ&iacute;pio totalizador nem de pol&iacute;tica nem de identidade coletiva (MACHADO &amp; PRADO, 2005).</p> <p class="texte" dir="ltr">No entanto, quando se trata da identidade coletiva, fica evidente que dentro da diversidade de pr&aacute;ticas que os grupos empreendem, &eacute; poss&iacute;vel compor, ainda que temporariamente, uma unidade necess&aacute;ria da delimita&ccedil;&atilde;o de uma identidade coletiva. Para al&eacute;m desta unidade, &eacute; importante destacar o movimento processual de negocia&ccedil;&atilde;o constante que este conjunto de pr&aacute;ticas sociais, discursos e articula&ccedil;&otilde;es objetivando a constitui&ccedil;&atilde;o de um sujeito coletivo na participa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica e social. Essa participa&ccedil;&atilde;o empreende a&ccedil;&otilde;es que formam rela&ccedil;&otilde;es antag&ocirc;nicas principalmente no que diz respeito aos valores repressores da sexualidade, contudo, reverberam em outras inst&acirc;ncias pol&iacute;ticas agregando demandas sociais aos seus discursos e pr&aacute;ticas, acessando canais de interlocu&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica com atores diversos.</p> <p class="texte" dir="ltr">Essa interlocu&ccedil;&atilde;o vem crescendo significativamente desde que publicamos nosso primeiro estudo, mas j&aacute; nesse per&iacute;odo dava mostras de sua predisposi&ccedil;&atilde;o, como podemos notar nas falas de Soraia Menezes<a class="footnotecall" href="#ftn9" id="bodyftn9">9</a>, uma de nossas entrevistadas:</p> <blockquote> <p class="citation" dir="ltr"><em>A parada aqui ela vem resistindo com muito sofrimento para que o capital n&atilde;o entre, porque a nossa parada ela tem uma hist&oacute;ria de luta que quem contribui s&atilde;o os sindicatos, quem num primeiro momento apoiava, s&atilde;o os DCE`s, por exemplo o DCE da PUC esse ano, eles deram os seguran&ccedil;as pra parada, ent&atilde;o &eacute; esse casamento nosso com o movimento social, com os movimentos de estudante, o movimento &eacute;, de movimento negro, o movimento negro deu uma ajuda essencial pra essa parada, porque a prefeitura tentou barrar a todo momento essa parada, e pediu que um engenheiro fizesse todo o trajeto da parada, e n&oacute;s n&atilde;o t&iacute;nhamos dinheiro, foi uma mulher do movimento negro foi l&aacute; e fez de gra&ccedil;a pra gente.</em></p> <p class="citation" dir="ltr"><em>Hoje lutar contra o preconceito e a discrimina&ccedil;&atilde;o &eacute; garantir o emprego, &eacute; garantir que l&eacute;sbicas e gays, tenham seu emprego garantido porque a discuss&atilde;o ela perpassa por ai, porque o preconceito e a discrimina&ccedil;&atilde;o existe hoje, porque infelizmente, porque &nbsp;os capital quer assim, porque as mulheres hoje ganha menos do que, por exemplo os homens, isso &eacute; interessante pro capital, se uma l&eacute;sbica ganha menos que uma mulher &eacute; interessante pro capital, ent&atilde;o a luta contra o preconceito que passa pela associa&ccedil;&atilde;o &eacute; uma luta que passa tamb&eacute;m por uma luta de classe, e de conscientiza&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, enquanto existir o preconceito e a discrimina&ccedil;&atilde;o vai existir l&eacute;sbica na favela, vai existir gays fora das faculdades, vai existir &nbsp;travesti que &eacute; expulso de casa. </em></p> <p class="citation" dir="ltr"><em>Gays e l&eacute;sbicas n&atilde;o podem lutar contra o preconceito sozinho, sem ter a unidade por exemplo dos negros e das mulheres, e eu acho que os movimentos sociais eles tinham que se unir, a n&iacute;vel sindical, a n&iacute;vel de mulheres, a n&iacute;vel de gays, porque eu acho que a nossa vit&oacute;ria ela seria mais imediata.</em></p> <p class="citation" dir="ltr"><em>A mesma coisa no movimento, por exemplo, sindical. </em><em>Se o movimento homossexual se interagisse com o movimento sindical eu acho que a nossa luta teria mais avan&ccedil;o porque n&oacute;s conseguir&iacute;amos por exemplo que nos boletins do sindicato eles colocassem a nossa quest&atilde;o, por exemplo nada nada, &eacute; uma categoria que ia estar sabendo a quest&atilde;o da diversidade.</em></p> </blockquote> <p class="texte" dir="ltr">A Parada GLBT, e a Associa&ccedil;&atilde;o que a organiza, representam um papel important&iacute;ssimo nesta arena. Ao redor destes atores se configura um espa&ccedil;o pol&iacute;tico onde s&atilde;o fomentados debates p&uacute;blicos sobre: o papel dos movimentos sociais; direitos humanos de GLBT&rsquo;s; implementa&ccedil;&atilde;o de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas espec&iacute;ficas; participa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, entre outros.</p> <p class="texte" dir="ltr">Como aponta Melucci (1996), o estudo da identidade coletiva deve se centrar exatamente nos conflitos que permanecem submersos na aparente unidade na qual se apresenta um determinado ator pol&iacute;tico. As formas de participa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica menos institucionalizadas e que buscam a forma&ccedil;&atilde;o de identidades coletivas se interessam, entre outras coisas, por romper a invisibilidade social e abrir o debate p&uacute;blico sobre demandas mais ou menos espec&iacute;ficas. Esse debate geralmente &eacute; aberto por meio de a&ccedil;&otilde;es coletivas, tais como a Parada, que representam, em &uacute;ltima inst&acirc;ncia, um ponto particular, por&eacute;m entrela&ccedil;ado, em uma rede de rela&ccedil;&otilde;es muito mais ampla.</p> <p class="texte" dir="ltr">Essas quest&otilde;es s&atilde;o relevantes &agrave; psicologia social na medida em que sempre esteve preocupada com quest&otilde;es relacionadas ao espa&ccedil;o de conviv&ecirc;ncia conjunta, a forma&ccedil;&atilde;o e din&acirc;mica dos grupos e as rela&ccedil;&otilde;es de poder subjacentes &agrave;s delimita&ccedil;&otilde;es de fronteiras intra e inter grupais. A psicologia social tem procurado compreender os processos psicossociais que est&atilde;o envolvidos nas rela&ccedil;&otilde;es entre grupos e identidades coletivas.</p> <p class="texte" dir="ltr">Prado (2002), Melucci (1996) e Mouffe(1988) nos indicam que qualquer compreens&atilde;o dos fen&ocirc;menos sociais necessita partir n&atilde;o somente da an&aacute;lise das condi&ccedil;&otilde;es estruturais, mas tamb&eacute;m das din&acirc;micas de constitui&ccedil;&atilde;o dos atores sociais e seus aspectos subjetivos<a class="footnotecall" href="#ftn10" id="bodyftn10">10</a>.</p> <p class="texte" dir="ltr">O movimento GLBTT, como todo movimento social, traz consigo uma s&eacute;rie de contradi&ccedil;&otilde;es que surgem concomitantemente ao processo de constitui&ccedil;&atilde;o de sua identidade coletiva. Esse processo, que &eacute; ao mesmo tempo individual e coletivo, suscita diversas quest&otilde;es que nos remetem ao estudo da identidade (SANTOS, 2003b). Essa apreens&atilde;o te&oacute;rica se faz necess&aacute;ria uma vez que &eacute; a diversidade das experi&ecirc;ncias que possibilitam a emerg&ecirc;ncia de novos espa&ccedil;os de luta e pr&aacute;ticas pol&iacute;ticas. Ressaltamos aqui a import&acirc;ncia da tradi&ccedil;&atilde;o dos estudos sobre a din&acirc;mica e participa&ccedil;&atilde;o nos movimentos sociais na Psicologia Social.</p> <p class="texte" dir="ltr" style="text-decoration:underline;">A PARADA GLBT E SUAS IMPLICA&Ccedil;&Otilde;ES POL&Iacute;TICAS</p> <p class="texte" dir="ltr">As &ldquo;Paradas Gays&rdquo; t&ecirc;m se revelado uma importante a&ccedil;&atilde;o coletiva de cunho pol&iacute;tico, e instrumento de participa&ccedil;&atilde;o social e pol&iacute;tica de Gays, L&eacute;sbicas, Bissexuais, Travestis e Transg&ecirc;neros, na sociedade contempor&acirc;nea. Em in&uacute;meros locais t&ecirc;m chamado a aten&ccedil;&atilde;o das sociedades tanto pelo crescente n&uacute;mero de participantes, quanto por reivindica&ccedil;&otilde;es que tem colocado na pauta das discuss&otilde;es pol&iacute;ticas de v&aacute;rios Estados Modernos temas como: Reconhecimento das parcerias entre casais do mesmo sexo; A cria&ccedil;&atilde;o de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas pr&oacute;prias para a popula&ccedil;&atilde;o homossexual; A cria&ccedil;&atilde;o de leis que punam crimes de &oacute;dio; Constitui&ccedil;&atilde;o de mecanismos pol&iacute;ticos e sociais para uma maior visibilidade homossexual;</p> <p class="texte" dir="ltr">Como nos mostra Ferreyra (2004), se referindo ao contexto da Am&eacute;rica Latina, no ano de 2003 foram realizadas paradas na Bol&iacute;via, Costa Rica, Equador, Honduras, Nicar&aacute;gua, Paraguai, Peru, Porto Rico, S&atilde;o Salvador; Uruguai, Venezuela, no Chile e na Col&ocirc;mbia em duas cidades, na Argentina em 3 cidades, no M&eacute;xico em 9 cidades e finalmente no Brasil em 28 cidades. Al&eacute;m de expressivos, podemos afirmar, partindo de nossos di&aacute;logos com o campo, publica&ccedil;&otilde;es em jornais e e-mails em listas de discuss&atilde;o, que esses n&uacute;meros s&atilde;o bem inferiores &agrave; realidade e v&ecirc;m crescendo consideravelmente de 2003 at&eacute; hoje.</p> <p class="texte" dir="ltr">As paradas v&ecirc;m crescendo em n&uacute;mero de localidades e participantes, passando a integrar o calend&aacute;rio cultural de diversas cidades. Como mostraram os jornais do pa&iacute;s, dando pela primeira vez a cobertura merecida, a parada de S&atilde;o Paulo em 2005 atingiu o estrondoso n&uacute;mero de 2 milh&otilde;es de participantes, se constituindo na maior parada do mundo e representando a maior manifesta&ccedil;&atilde;o c&iacute;vica de nossa hist&oacute;ria. A parada paulistana atualmente chega a ser respons&aacute;vel por cerca de 10% do faturamento anual da cidade com turismo.</p> <p class="texte" dir="ltr">Estes eventos t&ecirc;m se mostrado cada vez mais aceitos pelas institui&ccedil;&otilde;es governamentais: em 2004, a Parada de Belo Horizonte foi inclu&iacute;da no calend&aacute;rio cultural da cidade, e os grupos militantes contam cada vez mais com apoio direto da Secretaria Municipal Adjunta de Justi&ccedil;a e Direitos Humanos; a Deputada Laura Carneiro apresentou um projeto de lei para que o dia 28 de junho seja oficializado como o &ldquo;Dia do Orgulho Gay e da Consci&ecirc;ncia Homossexual&rdquo;; na Venezuela as organiza&ccedil;&otilde;es Alianza Lambda y Uni&oacute;n Afirmativa, organizam em junho, o m&ecirc;s do Orgulho GLBTT de Caracas, contando com apoio da Secretaria de Recrea&ccedil;&atilde;o e Turismo<a class="footnotecall" href="#ftn11" id="bodyftn11">11</a> da cidade (FERREYRA, 2004).</p> <p class="texte" dir="ltr">As paradas s&atilde;o realizadas o mais pr&oacute;ximo poss&iacute;vel do dia 28 de junho, em comemora&ccedil;&atilde;o ao nascimento do movimento gay americano, data essa que marca o primeiro levante contra a repress&atilde;o policial contra homossexuais. Isto se deu em 1969 no bar Stonewall, localizado no bairro Greenwich Village em Nova York. Este fato sinaliza para a conhecida influ&ecirc;ncia mundial dessas lutas no surgimento e nos modos de existir de movimentos sociais na Europa (ENGEL, 2001), na Am&eacute;rica Latina (FERREYRA, 2004) e no Brasil (FACCHINI, 2002; C&Acirc;MARA, 2002; e muitos outros).</p> <p class="texte" dir="ltr" style="text-decoration:underline;"><em>A PARADA DO ORGULHO HOMOSSEXUAL DE BELO HORIZONTE</em></p> <p class="texte" dir="ltr">A Parada de Belo Horizonte, e mais especificamente o grupo que a organiza, traz consigo especificidades que nos chamam a aten&ccedil;&atilde;o. Ao contr&aacute;rio de todas as paradas que temos conhecimento, em nossa cidade este evento foi inaugurado e dirigido durante 7 anos por um grupo de L&eacute;sbicas (ALEM). Um outro ponto de diferencia&ccedil;&atilde;o &eacute; que, enquanto as &ldquo;Paradas Gays&rdquo; de outros centros urbanos brasileiros t&ecirc;m sido organizadas por um &uacute;nico grupo ou associa&ccedil;&atilde;o, aqui parece surgir um processo novo de produ&ccedil;&atilde;o desta a&ccedil;&atilde;o coletiva. Embora para o recebimento da verba do Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de seja necess&aacute;ria a assinatura de uma ONG espec&iacute;fica, todo o processo de organiza&ccedil;&atilde;o e delibera&ccedil;&atilde;o tem sido desenvolvido pela Associa&ccedil;&atilde;o da Parada do Orgulho Homossexual de Belo Horizonte que &eacute; constitu&iacute;da por cinco ONG&rsquo;s<a class="footnotecall" href="#ftn12" id="bodyftn12">12</a> que atuam em pol&iacute;ticas de preven&ccedil;&atilde;o de DST&rsquo;s e contra a discrimina&ccedil;&atilde;o.</p> <p class="texte" dir="ltr">Este &eacute; um grupo bastante heterog&ecirc;neo, com integrantes com concep&ccedil;&otilde;es totalmente diferentes de pol&iacute;tica, de sociedade, de democracia e at&eacute; mesmo de &ldquo;homossexualidade&rdquo;, trabalhando, dividindo tarefas e tomando decis&otilde;es democraticamente. Esse processo de democratiza&ccedil;&atilde;o n&atilde;o se faz sem restos, surgindo conflitos e diferen&ccedil;as que, por sua vez, geram novas posi&ccedil;&otilde;es de poder e novas alian&ccedil;as. Esses conflitos e diferen&ccedil;as implicam em concep&ccedil;&otilde;es diversas sobre as estrat&eacute;gias de embate pol&iacute;tico (MACHADO &amp; PRADO, 2005).</p> <p class="texte" dir="ltr">Este campo de antagonismo &eacute; o lugar onde devemos identificar como a quest&atilde;o da diversidade sexual tem sido transformada em um problema pol&iacute;tico por agrupamentos distintos. As diferen&ccedil;as pol&iacute;ticas aqui revelam como a sociedade civil organizada tem se politizado e conquistado poder na esfera p&uacute;blica da cidade, bem como as pol&iacute;ticas p&uacute;blicas espec&iacute;ficas t&ecirc;m influenciado a produ&ccedil;&atilde;o de estilos de milit&acirc;ncia, o que implica em um enquadramento das possibilidades de constru&ccedil;&atilde;o de identidades individuais, coletivas e pol&iacute;ticas (&Aacute;LVARES, DAGNINO &amp; ESCOBAR 1998).</p> <p class="texte" dir="ltr">Abro um par&ecirc;ntese para lembrar, que o surgimento dos movimentos sociais organizados em torno das discuss&otilde;es referentes &agrave; livre orienta&ccedil;&atilde;o sexual possui uma intrincada e paradoxal rela&ccedil;&atilde;o com o sistema capitalista de produ&ccedil;&atilde;o bem como com o processo de globaliza&ccedil;&atilde;o neoliberal que estamos vivendo. Essa rela&ccedil;&atilde;o pode ser ilustrada atrav&eacute;s do consumo do que se convencionou chamar de &ldquo;ind&uacute;stria cor-de-rosa&rdquo; ou &ldquo;pink money&rdquo;, no qual os homossexuais se tornam um grupo de consumo importante, movimentando cada vez mais produtos espec&iacute;ficos e volume de capital. Essa movimenta&ccedil;&atilde;o, enfatizada pela ind&uacute;stria cor-de-rosa e pelo fortalecimento s&oacute;cio-econ&ocirc;mico de partes deste segmento, proporcionou aos homossexuais zonas de democracia sexual atrav&eacute;s do mercado, e espa&ccedil;o midi&aacute;tico importantes para o lan&ccedil;amento de suas demandas em diversas agendas, trazendo ampla visibilidade e uma vasta gama de negocia&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas.</p> <p class="texte" dir="ltr">Todavia, esse processo revela uma ambig&uuml;idade, uma vez que, se por um lado, o sistema capitalista e o processo de globaliza&ccedil;&atilde;o oferecem as condi&ccedil;&otilde;es necess&aacute;rias para a erup&ccedil;&atilde;o e a&ccedil;&atilde;o do Movimento GLBTT, por outro, pode ser visto como parceiro de ideologias patriarcais e homof&oacute;bicas. O sistema capitalista, ainda mais gravemente em sua vertente neoliberal, relega a um segundo plano o compromisso do Estado com as necessidades sociais e a promo&ccedil;&atilde;o humana e abriga meios de comunica&ccedil;&atilde;o midi&aacute;tica que d&atilde;o visibilidade ao movimento, mas produzem imagens estereotipadas de um universo bastante diversificado, pois, o fluxo de valores culturais e pol&iacute;ticos ficam &agrave; merc&ecirc; dos interesses do mercado.</p> <p class="texte" dir="ltr">As paradas gays mais importantes do pa&iacute;s, como as de S&atilde;o Paulo e Rio de Janeiro, t&ecirc;m como caracter&iacute;stica presen&ccedil;a marcante do capital privado, sob forma de patroc&iacute;nio de grandes empresas. Esta entrada de capital permite amplo espa&ccedil;o de liberdade na organiza&ccedil;&atilde;o do evento, mas por outro lado, quais seriam suas implica&ccedil;&otilde;es? Qual o significado social desta entrada de capital nas a&ccedil;&otilde;es dos movimentos sociais?</p> <p class="texte" dir="ltr">Sabemos que uma rela&ccedil;&atilde;o acr&iacute;tica com o capital privado pode chegar a corromper ideais e subverter os objetivos emancipat&oacute;rios dos movimentos sociais. A Ind&uacute;stria Cor-de-rosa e o conseq&uuml;ente fortalecimento de um gueto pode promover o isolamento de indiv&iacute;duos em sub-culturas, isolando-os do restante da sociedade sem, contudo, rejeitar sua inclus&atilde;o no sistema capitalista (SANTOS, 2003). Esse processo pode levar a uma neutraliza&ccedil;&atilde;o do poder emancipat&oacute;rio do movimento GLBTT reduzindo sua for&ccedil;a pol&iacute;tica e circunscrevendo sua visibilidade como produto do sistema capitalista.</p> <p class="texte" dir="ltr">Em Belo Horizonte, ao contr&aacute;rio das demais capitais do sudeste, a parada conta apenas com verba de entidades governamentais destinada &agrave; preven&ccedil;&atilde;o de doen&ccedil;as sexualmente transmiss&iacute;veis e produ&ccedil;&atilde;o de eventos culturais. Isto tamb&eacute;m nos remete a alguns problemas, pois, para a obten&ccedil;&atilde;o desta verba, os grupos t&ecirc;m que se adequar &agrave;s exig&ecirc;ncias do Estado.</p> <p class="texte" dir="ltr">Situarmos o papel dos movimentos sociais, e o modo como dever&atilde;o se posicionar frente aos demais atores pol&iacute;ticos, implica que estes sejam impelidos constantemente a definirem e redefinirem um conjunto contextual de metas e objetivos GLBT&rsquo;s. Contudo, a pol&iacute;tica GLBT deve ser entendida como a busca de metas e objetivos GLBTT&rsquo;s, no contexto de uma articula&ccedil;&atilde;o mais vasta de exig&ecirc;ncias e antagonismos, transformando todos os discursos, pr&aacute;ticas e rela&ccedil;&otilde;es sociais em que a categoria homossexual &eacute; constru&iacute;da de forma a implicar subordina&ccedil;&atilde;o (MOUFFE, 1988; 1996).</p> <p class="texte" dir="ltr">Em outras palavras, julgamos necess&aacute;rio analisar as pr&aacute;ticas e demandas do movimento GLBT na articula&ccedil;&atilde;o com pr&aacute;ticas e demandas de outros movimentos sociais. Isso pressup&otilde;e considerar que as identidades n&atilde;o est&atilde;o pr&eacute;-estabelecidas, mas ao contr&aacute;rio s&atilde;o sempre propiciadoras de novas identidades ou novas posi&ccedil;&otilde;es de sujeito. Ao inv&eacute;s de nos fixarmos isoladamente em uma forma espec&iacute;fica de discurso devemos tentar mostrar de que forma se expandem as possibilidades de entendimento entre os v&aacute;rios tipos de subordina&ccedil;&atilde;o (MOUFFE, 1988). Essas possibilidades de entendimento podem ser pensadas atrav&eacute;s do que Santos (2000) chama de teoria da, ou processo de tradu&ccedil;&atilde;o.</p> <p class="texte" dir="ltr">Ter em vista que cada identidade se constr&oacute;i mediante uma multiplicidade de discursos, nos d&aacute; subs&iacute;dios para n&atilde;o privilegiarmos os antagonismos de classe, tampouco ignor&aacute;-los, pois as forma&ccedil;&otilde;es identit&aacute;rias n&atilde;o podem ser explicadas apenas em termos estruturais, uma vez que envolvem um conjunto de pr&aacute;ticas sociais e aspectos econ&ocirc;micos, pol&iacute;ticos e culturais (MACHADO &amp; PRADO, 2005).</p> <p class="texte" dir="ltr">A compreens&atilde;o dos fen&ocirc;menos pol&iacute;ticos n&atilde;o pode definir a priori a primazia de uma de suas dimens&otilde;es, mas sim examinar as diferentes formas que as lutas democr&aacute;ticas pela igualdade tomam, em rela&ccedil;&atilde;o ao tipo de advers&aacute;rio pol&iacute;tico e as estrat&eacute;gias que eles implicam. Se um grupo ocupa um papel central em alguma transi&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, isto se deve &agrave; sua capacidade de articula&ccedil;&atilde;o de discursos em condi&ccedil;&otilde;es hist&oacute;ricas espec&iacute;ficas (MOUFFE, 1996).</p> <p class="texte" dir="ltr">Baseio esta afirma&ccedil;&atilde;o em no&ccedil;&otilde;es como a de &ldquo;hegemonia expansiva&rdquo;, de Gramsci, a de &ldquo;corrente de equival&ecirc;ncias&rdquo; de Laclau e Mouffe (1985) e a Teoria da Tradu&ccedil;&atilde;o de Boaventura Sousa Santos (SANTOS, 2000), que s&atilde;o passos no sentido de oferecer a cria&ccedil;&atilde;o de uma ideologia org&acirc;nica que articule movimentos sociais distintos.</p> <p class="texte" dir="ltr">Mouffe defende que construirmos uma sociedade mais justa depender&aacute; da habilidade das for&ccedil;as pol&iacute;ticas existentes de articular as diversas lutas democr&aacute;ticas na cria&ccedil;&atilde;o de uma nova forma&ccedil;&atilde;o hegem&ocirc;nica, pois devemos transcender a no&ccedil;&atilde;o individualista de direitos e elaborar uma no&ccedil;&atilde;o central de solidariedade.</p> <p class="texte" dir="ltr">A discuss&atilde;o sobre a inclus&atilde;o ou n&atilde;o de outras demandas sociais apenas indiretamente relacionadas ao segmento GLBTT tem se mostrado bastante controversa entre os militantes. Se por um lado, a inclus&atilde;o de demandas do movimento negro, feminista ou demandas que versam sobre as desigualdades estruturais da sociedade contribuiriam para uma maior interface pol&iacute;tica, por outro, elas trazem o risco de uma diminui&ccedil;&atilde;o do impacto pol&iacute;tico das quest&otilde;es diretamente ligadas aos direito sexuais.</p> <p class="texte" dir="ltr">Nessa perspectiva, temos notado que as rela&ccedil;&otilde;es entre esse movimento e os demais atores pol&iacute;ticos se sustentam sobre diversas tens&otilde;es. Militantes GLBTT&rsquo;s freq&uuml;entemente acusam candidatos pol&iacute;ticos de utilizarem as bandeiras GLBTT&rsquo;s em busca de plataformas eleitorais sem oferecerem o devido apoio em troca. Ou ainda, como aconteceu na parada de 2005, um grupo se ressentir pelo fato dos discursos pol&iacute;ticos excessivos ou excessivamente comprometidos descaracterizarem o aspecto l&uacute;dico da parada. Por outro lado, encontramos receios quanto a uma poss&iacute;vel despolitiza&ccedil;&atilde;o do movimento homossexual ao aceitarem subs&iacute;dios de empresas privadas deixando de lado posicionamentos pol&iacute;ticos mais definidos, ou ainda, receios quanto a Parada se tornar um momento meramente festivo, perdendo de vista suas possibilidades de impacto social. Todavia, podemos detectar uma crescente teia de alian&ccedil;as que vem sendo constru&iacute;da com sindicatos, partidos pol&iacute;ticos, movimentos feministas, negros etc. Entretanto, os resultados dessas parcerias ainda precisam ser discutidos.</p> <p class="texte" dir="ltr">Estas tens&otilde;es e conflitos refletem, em &uacute;ltima inst&acirc;ncia, as diversas formas que a participa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica pode tomar em uma sociedade t&atilde;o complexa quanto a nossa. No entanto, defendemos que, considerar estas m&uacute;ltiplas e, por vezes, novas formas da participa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, n&atilde;o significa defender um posicionamento relativista com rela&ccedil;&atilde;o aos direitos sociais mais amplos. Faz-se necess&aacute;rio que estes direitos sejam contextualizados e dialogados com aquilo que Laclau e Mouffe (1985) denominaram como o processo de equival&ecirc;ncias entre lutas e reivindica&ccedil;&otilde;es capazes de criar uma corrente de equival&ecirc;ncia dos direitos sociais de forma a articular novas posi&ccedil;&otilde;es contra-hegem&ocirc;nicas. Afinal,</p> <p class="texte" dir="ltr" style="margin-left:0.4917in; margin-right:0.0in; text-indent:0.0in;">Um posicionamento GLBT contra o neoliberalismo e suas conseq&uuml;&ecirc;ncias, contra a exclus&atilde;o social, contra o dom&iacute;nio do mercado, ou qualquer outra express&atilde;o excludente do modelo n&atilde;o &eacute; um fato folcl&oacute;rico ou fortuito, nem constitui nenhuma aliena&ccedil;&atilde;o de uma &lsquo;causa espec&iacute;fica&rsquo;, mas est&aacute; fundado na realidade hist&oacute;rica e contextual do Sul, afetado pelo estreitamento que o modelo provoca para o exerc&iacute;cio de cidadanias plenas (LE&Oacute;N, 2003, p. 13).</p> <p class="texte" dir="ltr">Para acomodarmos essa discuss&atilde;o num cen&aacute;rio te&oacute;rico sobre o universo pol&iacute;tico, devemos ter em vista uma no&ccedil;&atilde;o de realidade social que n&atilde;o pode ser definida como uma objetividade transparente e completa, mas um real que &eacute; constru&iacute;do atrav&eacute;s de conflitos, contradi&ccedil;&otilde;es e lutas que possibilitam uma limita&ccedil;&atilde;o das m&uacute;ltiplas significa&ccedil;&otilde;es poss&iacute;veis. Portanto, &eacute; num complexo jogo de criar hegemonias e contra-hegemonias que concorrem a diferentes formas de significa&ccedil;&atilde;o, que se daria a constru&ccedil;&atilde;o da realidade social. Nesse sentido, um movimento social n&atilde;o se mobilizaria e manteria apenas e simplesmente pela condi&ccedil;&atilde;o de exclus&atilde;o dos indiv&iacute;duos envolvidos, mas pela inten&ccedil;&atilde;o de criar uma nova realidade, constitu&iacute;da de novos elementos simb&oacute;lico-culturais (PRADO, 2001; 2000). Em outras palavras, &eacute; necess&aacute;ria uma ponte sem&acirc;ntica que leve com que os indiv&iacute;duos se identifiquem coletivamente e formem uma identidade (HONNETH, 2003).</p> <p class="texte" dir="ltr">Em nosso caso de estudos, percebemos que existem elementos que abrem importantes brechas para essas discuss&otilde;es: 1) fato da Parada ainda n&atilde;o receber verba do setor privado e, 2) os atores pol&iacute;ticos com os quais os grupos t&ecirc;m interface. Muitos militantes v&ecirc;m de partidos de extrema esquerda e sindicatos, tendo ampla intercess&atilde;o com outros movimentos sociais. Uma fala de Soraia Menezes conceitua bem o que queremos expor:</p> <p class="texte" dir="ltr" style="margin-left:0.4917in; margin-right:0.0in; text-indent:0.0in;">A parada aqui ela vem resistindo com muito sofrimento para que o capital n&atilde;o entre, porque a nossa parada ela tem uma hist&oacute;ria de luta que quem contribui s&atilde;o os sindicatos, que num primeiro momento apoiava, s&atilde;o os DCE`s, por exemplo o DCE da PUC esse ano, eles deram os seguran&ccedil;as pra parada, ent&atilde;o &eacute; esse casamento nosso com o movimento social, com os movimentos de estudante, o movimento &eacute;, de movimento negro, o movimento negro deu uma ajuda essencial pra essa parada, porque a prefeitura tentou barrar a todo momento essa parada, e pediu que um engenheiro fizesse todo o trajeto da parada, e n&oacute;s n&atilde;o t&iacute;nhamos dinheiro, foi uma mulher do movimento negro foi l&aacute; e fez de gra&ccedil;a pra gente, ent&atilde;o &eacute; essa a rela&ccedil;&atilde;o. O patroc&iacute;nio que hoje n&oacute;s temos, &eacute; do minist&eacute;rio da sa&uacute;de que &eacute; um dinheiro do povo(...) agora v&aacute;rios empres&aacute;rios j&aacute; tentaram pegar a parada dizendo n&atilde;o voc&ecirc;s n&atilde;o v&atilde;o ter trabalho nenhum n&atilde;o n&oacute;s fazemos a parada, mas a parada aqui de belo horizonte &eacute; feita por militantes cada um militante d&aacute; o seu tempo, inclusive o seu dinheiro pra essa parada, ent&atilde;o e uma parada que esse ano levou 40 mil pessoas as ruas indiferente de ter empres&aacute;rio ou n&atilde;o, n&oacute;s fizemos a parada, cada militante, cada pessoa, ela fez a parada, e o legal &eacute; que as pr&oacute;prias pessoas elas v&atilde;o divulgar, ela sente necess&aacute;ria a isso, diferente da parada de S&atilde;o Paulo inclusive, que a Volkswagen deu 300 mil reais &nbsp;para que n&atilde;o sa&iacute;sse a den&uacute;ncia em rela&ccedil;&atilde;o a discrimina&ccedil;&atilde;o que tava l&aacute;, que um funcion&aacute;rio sofreu, eu acho que isto &eacute; ruim da parada, quando voc&ecirc; tem que, se vende, ent&atilde;o quando o dia que aqui em belo horizonte tiver que fazer isto, n&oacute;s n&atilde;o vamos estar dirigindo a parada mais n&atilde;o, porque n&oacute;s n&atilde;o vamos receber dinheiro de capital, pra esconder o preconceito, porque a parada ela &eacute; um momento de visibilidade um momento de reivindica&ccedil;&atilde;o, um momento de denuncia, e se voc&ecirc; passa essa parada pra um momento de visibilidade apenas, vira festa. E eu acho que h&aacute; um desvio muito grande das paradas em n&iacute;vel nacional que deixou de ser denunciativa e reivindicat&oacute;ria e fica mais em festa.</p> <p class="texte" dir="ltr">Coloca&ccedil;&otilde;es como estas chegam a nos interrogar sobre o real significado destes eventos. Todavia, mesmo podendo questionar o teor pol&iacute;tico da parada, &eacute; ineg&aacute;vel seu potencial transformador:</p> <p class="texte" dir="ltr" style="margin-left:0.4917in; margin-right:0.0in; text-indent:0.0in;">A parada &eacute; hoje a maior festa pol&iacute;tica deste pa&iacute;s, a favor da liberdade de amar, contra a culpa. A multid&atilde;o que lotou a Avenida Paulista e a Rua da Consola&ccedil;&atilde;o realizou uma imensa celebra&ccedil;&atilde;o amorosa, na contram&atilde;o da cultura homof&oacute;bica, patrocinada pelas religi&otilde;es cristas, judaica e isl&acirc;mica, bem como pela sociedade que insiste em defender a heterossexualidade obrigat&oacute;ria. Mostrou homossexuais celebrando uma nova compreens&atilde;o do amor e ensinando ao Brasil e ao mundo a lutar pelo direito de amar - uma proposta pol&iacute;tica digna de sociedades verdadeiramente justas e democr&aacute;ticas, nasce quais &lsquo;o sol realmente nasce para todos&rsquo;. N&atilde;o poderia ser mais feliz (Silva, 2004).</p> <h1 dir="ltr" id="heading5">Conclus&otilde;es</h1> <p class="texte" dir="ltr">Quando tomamos a Parada como objeto de an&aacute;lise, temos consci&ecirc;ncia que falamos de um fen&ocirc;meno complexo e multifacetado, que pode ser apreendido de muitas formas diferentes. A Parada &eacute; fruto de uma ampla teia de rela&ccedil;&otilde;es e sua import&acirc;ncia pode ser vista, sobretudo, nos usos que s&atilde;o feitos de seu impacto midi&aacute;tico no cotidiano dos grupos que a produzem.</p> <p class="texte" dir="ltr">A Parada como a&ccedil;&atilde;o coletiva, expressa os anseios de uma popula&ccedil;&atilde;o muito diversa, entretanto a diversidade das formas de vida homossexual n&atilde;o implica necessariamente em uma fragmenta&ccedil;&atilde;o das a&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas. A unidade artificial com que esse evento &eacute; publicizado n&atilde;o pode ser entendida como homogeneiza&ccedil;&atilde;o, pois a principal estrat&eacute;gia de emerg&ecirc;ncia da diversidade de formas de vida social minorit&aacute;rias no mundo p&uacute;blico tem sido a luta por visibilidade social. &Eacute; atrav&eacute;s da visibilidade que ser&aacute; poss&iacute;vel a exposi&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica de demandas sociais e a emerg&ecirc;ncia de antagonismos.</p> <p class="texte" dir="ltr">Nesse sentido, n&atilde;o podemos conceber a realiza&ccedil;&atilde;o da Parada como uma finalidade &uacute;ltima, mas, sobretudo, como um meio atrav&eacute;s do qual ser&atilde;o ativadas outras conex&otilde;es pol&iacute;ticas e sociais. A visibilidade proporcionada pela Parada pode contribuir sobremaneira para a cria&ccedil;&atilde;o e ressignifica&ccedil;&atilde;o das diversas identidades coletivas que se abrigam sob seu impacto social. Assim, s&atilde;o processadas formas de perten&ccedil;a que fortalecem os v&iacute;nculos e promovem novas a&ccedil;&otilde;es coletivas e individuais de exposi&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica ou n&atilde;o.</p> <p class="texte" dir="ltr">Mesmo que a desmobiliza&ccedil;&atilde;o dos participantes da Parada seja t&atilde;o r&aacute;pida, devemos ter em mente que este evento, ao deflagrar a ocupa&ccedil;&atilde;o do espa&ccedil;o p&uacute;blico num protesto c&iacute;vico, questiona as posi&ccedil;&otilde;es institucionais de legitima&ccedil;&atilde;o do silenciamento da homossexualidade para al&eacute;m do protesto pontual e a hist&oacute;rica constru&ccedil;&atilde;o de uma cidadania GLBT &ldquo;naturalmente&rdquo; inferiorizada, ou sub-cidadania. Isto se d&aacute; a partir da autoridade que os grupos organizadores do evento adquirem como representantes de uma popula&ccedil;&atilde;o consider&aacute;vel, seja esta representa&ccedil;&atilde;o legitimada no &acirc;mbito pol&iacute;tico, cultural ou de mercado.</p> <p class="texte" dir="ltr">&Eacute; nesse sentido, que consideramos t&atilde;o importante quanto entender o evento de massa, entender os processos de negocia&ccedil;&atilde;o que o produzem e que s&atilde;o ativados por ele, seja nas redes submersas, nos movimentos semi-institucionalizados ou em institui&ccedil;&otilde;es do Estado que de alguma forma t&ecirc;m seus percursos interpelados pela Parada.</p> <p class="texte" dir="ltr">N&atilde;o por outra raz&atilde;o &eacute; que devemos considerar a identidade coletiva constitu&iacute;da na organiza&ccedil;&atilde;o da Parada como um processo din&acirc;mico, no qual o evento &eacute; tomado como meio de sustenta&ccedil;&atilde;o de um sistema de a&ccedil;&atilde;o que proporciona formas de pertencimento atrav&eacute;s da produ&ccedil;&atilde;o de valores que d&atilde;o um sentido pragm&aacute;tico e pol&iacute;tico &agrave; atividade dos indiv&iacute;duos e dos grupos envolvidos. Essas redes proporcionam uma reinven&ccedil;&atilde;o do cotidiano, onde novas posi&ccedil;&otilde;es hier&aacute;rquicas s&atilde;o constitu&iacute;das e tornam poss&iacute;vel a interpela&ccedil;&atilde;o das objetiva&ccedil;&otilde;es sociais em espa&ccedil;os pr&eacute;-institucionais.</p> <p class="texte" dir="ltr">Para tentar superar os hiatos que tradicionalmente se fazem entre estrutura e significado, universos institucionais e n&atilde;o institucionais, entre tantos outros, &eacute; que a psicologia social se mostra mais relevante. Ao contr&aacute;rio dos modelos est&aacute;ticos das teorias sociol&oacute;gicas, o arcabou&ccedil;o da psicologia social vem contribuindo largamente para a compreens&atilde;o das din&acirc;micas de intera&ccedil;&atilde;o micro-sociol&oacute;gicas.</p> <p class="texte" dir="ltr" style="margin-left:0.4917in; margin-right:0.0in; text-indent:0.0in;">A psicologia social deveria ser para a teoria marxista da ideologia o que a microeconomia &eacute; para a teoria econ&ocirc;mica marxista. Sem um conhecimento s&oacute;lido sobre os mecanismos que operam a n&iacute;vel individual, as teses marxistas de amplo alcance sobre as macroestruturas e as mudan&ccedil;as de longo prazo s&atilde;o condenadas a permanecer como especula&ccedil;&otilde;es (Elster, 1989 citado em SANDOVAL, 1989, p.128).</p> <p class="texte" dir="ltr">Mesmo que se questione o movimento contra hegem&ocirc;nico contido na atua&ccedil;&atilde;o desses grupos, &eacute; not&aacute;vel o modo como ocorre o rompimento com algumas formas de rela&ccedil;&otilde;es sociais e pol&iacute;ticas assim&eacute;tricas. Nesse sentido, pensando na reflexividade que atua entre as identidades coletivas e o reconhecimento p&uacute;blico do impacto das a&ccedil;&otilde;es coletivas empreendidas por elas, podemos inferir que, se a Parada tem uma import&acirc;ncia no cotidiano dos movimentos homossexuais, &eacute; o de produzir novas formas de pertencimento grupal (implica&ccedil;&atilde;o emocional dos envolvidos), e a amplia&ccedil;&atilde;o das redes de rela&ccedil;&otilde;es intra e inter grupos. N&atilde;o obstante, as transforma&ccedil;&otilde;es operadas nessa dimens&atilde;o v&atilde;o influenciar aspectos mais estruturais do cotidiano desses grupos e no imagin&aacute;rio deste segmento social.</p> <p class="texte" dir="ltr">A identidade coletiva &eacute; um processo de constru&ccedil;&atilde;o social que se apresenta publicamente como uma unidade parcial e provis&oacute;ria. Contudo, &eacute; exatamente a diversidade existente abaixo dessa unidade que nos d&aacute; a t&ocirc;nica dessa an&aacute;lise, ancorados nos estudos da psicologia social que seguem uma tradi&ccedil;&atilde;o em estudos de din&acirc;mica da participa&ccedil;&atilde;o social e movimentos sociais.</p> <p class="texte" dir="ltr">Quando tomamos a Parada como objeto de reflex&atilde;o, o fazemos investigando a identidade coletiva formada entre os grupos que a organizam, e que tentam fazer dela um instrumento pol&iacute;tico de vincula&ccedil;&atilde;o e interpela&ccedil;&atilde;o da pol&iacute;tica institucional. Nesse movimento buscam o fortalecimento das posi&ccedil;&otilde;es contra hegem&ocirc;nicas dentro de uma complexa teia processual de rela&ccedil;&otilde;es simb&oacute;licas e materiais. Sendo assim, esses sujeitos n&atilde;o podem ser tratados simplesmente dentro de uma identidade pol&iacute;tica calcada em elementos identit&aacute;rios provindos da homossexualidade, mas devemos consider&aacute;-los sujeitos plurais, que articulam pr&aacute;ticas pol&iacute;ticas.</p> <p class="texte" dir="ltr">Identificamos que, cada vez mais, se desenvolvem v&iacute;nculos institucionais entre os movimentos homossexuais e o poder p&uacute;blico: dois grupos militantes, CELLOS-MG e ASSTRAV, utilizam como sede o espa&ccedil;o do Centro de Refer&ecirc;ncia da Diversidade Sexual que se localiza dentro da Secretaria Adjunta de Justi&ccedil;a e Direitos Humanos; atualmente esses grupos t&ecirc;m se esfor&ccedil;ado para fortalecer, junto ao Governo do Estado, o Centro de Refer&ecirc;ncia da Diversidade Sexual Estadual; dentre as diversas categorias de atores com os quais os grupos GLBT de Belo Horizonte se relacionam podemos citar: &oacute;rg&atilde;os governamentais Municipais, Estaduais e Federais; Universidades; Movimentos Sociais, entre outros atores.</p> <p class="texte" dir="ltr">A constitui&ccedil;&atilde;o da identidade coletiva desses grupos em intera&ccedil;&atilde;o se d&aacute; em um campo complexo de identifica&ccedil;&atilde;o das fronteiras pol&iacute;ticas, como podemos ilustrar na figura abaixo:</p> <p class="texte" dir="ltr" style="text-align: center;"><img alt="Image1" src="https://numerev.com/images/cpp/docannexe/image/891/img-1.png" style="width:5.9898inch;height:2.9063inch;margin-left:0.0in;margin-right:0.0in;margin-top:0mm;margin-bottom:0mm;padding-top:0.0602in;padding-bottom:0.0602in;padding-left:0.1102in;padding-right:0.1102in;border:none" /></p> <p class="texte" dir="ltr"><a id="Image17Cgraphics"></a>Podemos conceber esse campo como a arena na qual ser&aacute; pensada a constru&ccedil;&atilde;o de uma cidadania GLBT plena, onde cada um desses atores n&atilde;o pode ser pensado imediatamente como &ldquo;mais&rdquo; ou &ldquo;menos democratizador&rdquo;, mas compreendido contextualmente, dentro da concep&ccedil;&atilde;o de realidade social que discutimos anteriormente.</p> <p class="texte" dir="ltr">Acreditando que nossos resultados devem servir para realimentar as pr&aacute;ticas dos movimentos sociais que pesquisamos, discutimos estes resultados em semin&aacute;rios defendendo e identificando alguns desafios que se fazem necess&aacute;rios para se pensar a democratiza&ccedil;&atilde;o deste segmento: 1) Fortalecimento das Ong&rsquo;s e Movimentos Sociais, sem perder de vista a autonomia dos mesmos, uma vez que estes seriam por excel&ecirc;ncia os conhecedores das demandas das bases e respons&aacute;veis por nutrir as pol&iacute;ticas de conhecimento sobre as viv&ecirc;ncias concretas da condi&ccedil;&atilde;o de opress&atilde;o a que este segmento &eacute; submetido; 2) Implanta&ccedil;&atilde;o de Pol&iacute;ticas P&uacute;blicas Redistributivas/Reconhecimento; 3) Fortalecimento da Rede de Institui&ccedil;&otilde;es Pol&iacute;ticas, Assistenciais e Jur&iacute;dicas, e capacita&ccedil;&atilde;o das mesmas para lidar com as Quest&otilde;es GLBT&rsquo;s; 4) Interc&acirc;mbio Reflexivo Entre os V&aacute;rios Atores Pol&iacute;ticos; 5) Entrela&ccedil;amento equivalente entre outras demandas transversais;</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn1" id="ftn1">1</a> &nbsp;A sigla GLBTT &eacute; utilizada para designar Gays, L&eacute;sbicas, Bissexuais, Travestis e Transg&ecirc;neros ou Transexuais, a diverg&ecirc;ncia em torno no n&uacute;mero de T&rsquo;s se d&aacute; em virtude de algumas transsexuais exigirem uma diferencia&ccedil;&atilde;o em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s outras identidades que se abrigariam sob a denomina&ccedil;&atilde;o de Transg&ecirc;neros. Utilizaremos principalmente GLBT, por ser a sigla mais utilizada pelos movimentos sociais, onde o T se refere a Transg&ecirc;neros. A prolifera&ccedil;&atilde;o e a hist&oacute;ria dessas siglas no Brasil s&atilde;o discutidas pormenorizadamente por Facchini (2002). Segundo essa autora a primeira sigla a ser utilizada por esse movimento foi GLT, Gays, L&eacute;sbicas e Travestis, e foi cunhado para diferenciar de GLS, Gays, L&eacute;sbicas e Simpatizantes, e que era um termo j&aacute; associado a uma vis&atilde;o extremamente mercadol&oacute;gica da sexualidade. A ordem das letras tamb&eacute;m &eacute; motivo de diverg&ecirc;ncias sendo comum encontrarmos LGBT, o que sinalizaria para uma discuss&atilde;o sobre a inferioriza&ccedil;&atilde;o das mulheres (l&eacute;sbicas) dentro do movimento homossexual, ou TLGB, sinalizando para uma maior necessidade de visibilidade para os transg&ecirc;neros..</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn2" id="ftn2">2</a> &nbsp;Os resultados dessa pesquisa se encontram no texto Movimentos Homossexuais: A Constitui&ccedil;&atilde;o da Identidade Coletiva Entre a Economia e a Cultura. O Caso de Dois Grupos Brasileiros (MACHADO &amp; PRADO, 2005)</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn3" id="ftn3">3</a> &nbsp;Pesquisa de inicia&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica intitulada: A Din&acirc;mica da Participa&ccedil;&atilde;o Pol&iacute;tica no Movimento Social GLBT: Seus Impedimentos e Suas Possibilidades. (COSTA &amp; PRADO, 2006).</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn4" id="ftn4">4</a> &nbsp;Os resultados do question&aacute;rio aplicado em 2005 podem ser encontrados no livro Participa&ccedil;&atilde;o, Pol&iacute;tica e Homossexualidade VIII Parada do Orgulho GLBT de Bel&ocirc; (PRADO, M., RODRIGUES, C. &amp; MACHADO, V., 2006). O relat&oacute;rio da pesquisa de 2006 ainda est&aacute; sendo redigido.</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn5" id="ftn5">5</a> &nbsp;Pesquisa de Mestrado que originou o presente texto intitulada: Estudo da Constitui&ccedil;&atilde;o da Identidade Coletiva da Parada do Orgulho GLBT de Belo Horizonte - MG.</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn6" id="ftn6">6</a> &nbsp;Al&eacute;m de apresentar o mais alto &iacute;ndice de desigualdade s&oacute;cio-econ&ocirc;mica do mundo, o Brasil apresenta o maior &iacute;ndice mundial de crimes de &oacute;dio contra homossexuais (Mott, 2002).</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn7" id="ftn7">7</a> &nbsp;Mouffe (1996) apresenta uma excelente an&aacute;lise sobre teorias feministas essencialistas.</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn8" id="ftn8">8</a> &nbsp;Um bom exemplo da positividade dessa rela&ccedil;&atilde;o &eacute; que a pesquisa quantitativa que realizamos (PRADO, M, RODRIGUES, C. &amp; MACHADO, F. 2006), que partiu de uma demanda dos pr&oacute;prios grupos que organizam o evento. Durante nossa participa&ccedil;&atilde;o nas atividades dos grupos, nos foi trazida a id&eacute;ia de realizar uma pesquisa que levantasse um perfil geral dos participantes do evento, tomando como exemplo um estudo semelhante (CARRARA, Sergio, RAMOS, Silvia; CAETANO, M&aacute;rcio. Pol&iacute;tica, direitos, viol&ecirc;ncia e homossexualidade: 8&ordf; Parada do Orgulho GLBT &ndash; Rio &ndash; 2003.Rio de Janeiro: Pallas) realizado na cidade do Rio de Janeiro e que contou com a parceria do grupo militante Arco-&Iacute;ris.</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn9" id="ftn9">9</a> &nbsp;Soraia Meneses foi a fundadora da ALEM (Associa&ccedil;&atilde;o L&eacute;sbica de Minas), &eacute; sindicalista e filiada a partidos de esquerda h&aacute; muitos anos, tendo sido uma das fundadoras do PSTU e a primeira candidata a senadora assumidamente l&eacute;sbica do Brasil (Foi entrevistada em 2004 e 2006).</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn10" id="ftn10">10</a> &nbsp;Podemos ilustrar a import&acirc;ncia dessa dimens&atilde;o psicossocial atrav&eacute;s da ambig&uuml;idade que se constitui entre a estrutura do movimento GLBT e o capitalismo globalizado (SANTOS 2003b; LE&Oacute;N, 2003). Discutiremos esse aspecto mais adiante.</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn11" id="ftn11">11</a> &nbsp;O apoio da Secretaria de Recrea&ccedil;&atilde;o e Turismo &eacute; um fato que revela aspectos interessantes da complexidade do Movimento GLBT. Por que um evento que interroga os valores sociais, produz antagonismos pol&iacute;ticos e defende os direitos humanos desenvolve parceria com o setor de turismo ao inv&eacute;s do setor de direitos humanos?</p> <p class="notebaspage" dir="ltr"><a class="FootnoteSymbol" href="#bodyftn12" id="ftn12">12</a> &nbsp;ALEM (Associa&ccedil;&atilde;o L&eacute;sbica de Minas), ASSTRAV (Associa&ccedil;&atilde;o de Transg&ecirc;neros e Transsexuais de Minas Gerais), CELLOS (Centro de Luta pela Livre Orienta&ccedil;&atilde;o Sexual), GAPA (Grupo de Apoio e Preven&ccedil;&atilde;o contra a AIDS) e GRUPO GURI.</p> <h4 dir="ltr" id="heading6">Referencias bibliogr&aacute;ficas</h4> <p class="bibliographie" dir="ltr">Alvarez, S.; Dagnino, &amp;.; Escobar, A.<em> Cultures of Politics &ndash; Politcs of Cultures: re-visioning latin american social movements. </em><span class="bibliographiecar">Oxford: Westview Press, (1998)</span></p> <p class="bibliographie" dir="ltr">Anjos, G. 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